Filósofos amadores e profissionais em geral gostam de perguntar pela natureza de seu ofício repetidamente. Deleuze em seu elementar, mas não introdutório, "O que é a filosofia?" se coloca essa questão premente e que não pode mais ser evitada na hora de falar seriamente. Hegel se posiciona ao entardecer, quando a coruja de Minerva alça seu vôo. Nesse sentido de resposta, a filosofia é essencialmente a reflexão tardia e totalizadora de quem se dedicou a vida à arte dos primeiros princípios. Contudo, o termo filosofia possui muitos e distintos sentidos, querendo quase significar coisas diferentes para pessoas diferentes.
Gostaria de explorar brevemente uma outra idéia que, creio eu, está tão espantosamente ligada à própria pergunta que é dificilmente percebida. Perguntas em geral estão associadas a contextos comunicativos, onde se pressupõe a existência de falantes que buscam cooperar na forma de diálogos. Perguntar pelo que é a filosofia é, assim, entrar necessariamente em um contexto de discurso que, como tal, está estruturado a partir de regras implícitas e explícitas. Desse modo, perguntar pela natureza de uma arte dentro de uma escola que a ensina é perguntar pela sua justificação acadêmica, o que, por sua vez, leva a justificativas de cunho epistemológico. Obviamente que nas escolas comprometidas ideologicamente as justificativas contém igualmente uma justificativa política. Nesse caso, o melhor dos mundos é o marxismo científico, igualmente científico e engajado. Contudo, a crise de um sistema de pensamento não é a crise da filosofia. Muitas vezes, a história mostrou o contrário. Momentos de crises e de quebras de paradigmas são especialmente ricos e fecundos em termos de idéias (mesmo aquelas que hoje não seriam admitidas como filosóficas, como as da física newtoniana, da biologia darwiniana ou da psicanálise freudiana).
Seja como for a pergunta permanece.
O meio onde se pratica essa arte altera radicalmente, senão a natureza da pergunta, oracular e indecifrável quanto aos seus propósitos, a natureza da resposta. O fato é que a arte evolui com os vetores a partir dos quais se propaga. A arte falada por Sócrates no mercado, onde ensinava o ofício da argumentação correta e conseqüente aos seus compatriotas, sofreu a sua mais brutal transformação com o advento da palavra escrita. A invenção da filosofia escrita configura acontecimento espetacular, que preservou para posteridade modelos de pensamento, bem como suas discussões, que certamente teriam sido perdidos por qualquer tradição oral.
Será que a invenção e amadurecimento de ambientes virtuais não acrescenta novas e inusitadas camadas à arte da filosofia? A criação de hiperlinks adiciona uma nova e rica camada de informações ao texto bidimensional, criação antiga e simplesmente transposta à linguagem dos pixels. As novas formas de diálogo sugerem novas formas de argumentação, o que, pelo menos do ponto de formal, já representa alterações significativas na própria essência da filosofia: o pensamento. Um silogismo que usa premissas em hiperlink desloca a necessidade de evidências, sejam textuais, sejam figurativas, para uma outra dimensão do discurso. O pensamento não compreende apenas de maneira linear, linha após linha, mas pode percorrer inúmeros caminhos, recebendo informações não apenas na ordem premeditada pelo autor, mas também naquelas exercidas por sua vontade.
Gostaria de explorar brevemente uma outra idéia que, creio eu, está tão espantosamente ligada à própria pergunta que é dificilmente percebida. Perguntas em geral estão associadas a contextos comunicativos, onde se pressupõe a existência de falantes que buscam cooperar na forma de diálogos. Perguntar pelo que é a filosofia é, assim, entrar necessariamente em um contexto de discurso que, como tal, está estruturado a partir de regras implícitas e explícitas. Desse modo, perguntar pela natureza de uma arte dentro de uma escola que a ensina é perguntar pela sua justificação acadêmica, o que, por sua vez, leva a justificativas de cunho epistemológico. Obviamente que nas escolas comprometidas ideologicamente as justificativas contém igualmente uma justificativa política. Nesse caso, o melhor dos mundos é o marxismo científico, igualmente científico e engajado. Contudo, a crise de um sistema de pensamento não é a crise da filosofia. Muitas vezes, a história mostrou o contrário. Momentos de crises e de quebras de paradigmas são especialmente ricos e fecundos em termos de idéias (mesmo aquelas que hoje não seriam admitidas como filosóficas, como as da física newtoniana, da biologia darwiniana ou da psicanálise freudiana).
Seja como for a pergunta permanece.
O meio onde se pratica essa arte altera radicalmente, senão a natureza da pergunta, oracular e indecifrável quanto aos seus propósitos, a natureza da resposta. O fato é que a arte evolui com os vetores a partir dos quais se propaga. A arte falada por Sócrates no mercado, onde ensinava o ofício da argumentação correta e conseqüente aos seus compatriotas, sofreu a sua mais brutal transformação com o advento da palavra escrita. A invenção da filosofia escrita configura acontecimento espetacular, que preservou para posteridade modelos de pensamento, bem como suas discussões, que certamente teriam sido perdidos por qualquer tradição oral.
Será que a invenção e amadurecimento de ambientes virtuais não acrescenta novas e inusitadas camadas à arte da filosofia? A criação de hiperlinks adiciona uma nova e rica camada de informações ao texto bidimensional, criação antiga e simplesmente transposta à linguagem dos pixels. As novas formas de diálogo sugerem novas formas de argumentação, o que, pelo menos do ponto de formal, já representa alterações significativas na própria essência da filosofia: o pensamento. Um silogismo que usa premissas em hiperlink desloca a necessidade de evidências, sejam textuais, sejam figurativas, para uma outra dimensão do discurso. O pensamento não compreende apenas de maneira linear, linha após linha, mas pode percorrer inúmeros caminhos, recebendo informações não apenas na ordem premeditada pelo autor, mas também naquelas exercidas por sua vontade.