19 de jan. de 2007

Análise do meu tempo: jornalismo ou filosofia?

Devemos deixar a análise das transformações de nosso tempo como tarefa privilegiada dos jornalistas? Os filósofos devem apenas, segundo uma famosa imagem dada por Hegel em sua Filosofia do Direito, esperar o entardecer dos acontecimentos para analisá-los, comprrendê-los e julgá-los? Nos tempos atuais, de aceleradas transformações materiais e intelectuais, os filósofos podem se eximir dessa tarefa sem perderem o essencial de seu ofício?
Certamente a análise feita por jornalistas nos meios de comunicação de massa são insuficientes para a compreensão da complexa teia de interações e transformações de nossa realidade presente. De outra parte, os filósofos possuem um instrumental teórico e analítico muito mais poderoso e rigoroso, mas pouco aplicado à compreensão da vida presente. Ao delegar a tarefa de análise da realidade presente e atual aos jornalistas, estariam os filósofos à altura de sua tarefa? Aristóteles, Descartes, Leibniz, entre outros, tinham em comum não apenas uma concepção filosófica do real, como também uma pretensão de um conhecimento totalizante, que abarcasse a totalidade do real em suas diversas espeficidades. Para tanto, não se constrangeram em empreender investigações e análises empíricas, quer do mundo natural, quer do mundo cultural. Catar conchas, colecionar constituições, descrever a circulação sanguínea, servir no exército e no serviço diplomático foram tarefas executadas com afinco por filósofos hoje considerados canônicos pela acadêmia.
Considerando que o conhecimento humano se especializou, dividindo-se num sem-número de disciplinas e áreas distintas, nos últimos 200 anos, ainda assim há espaço para análise das concepções contemporâneas de homem e natureza que não fiquem restritas a uma área específica do saber. Ainda é possível fazer filosofia sem olhar apenas para a sua história.

Torpedo Messenger- Envie torpedos do messenger para o celular da galera. Descubra como aqui!

12 de jan. de 2007

Reprimir ou reprimir: dilemas da segurança pública no Brasil


A recente onda de endurecimento do discurso de importantes personalidades públicas gaúchas e nacionais nos fazem crer que a única saída para a violência ímpar que atinge nossa sociedade é aumentar a repressão. Tal política leva a um aumento enorme da população carcerária, sem, contudo, como estamos vendo, diminuir os índices de criminalidade. Sem dúvida, o assunto é polêmico e desperta paixões iradas. Um pouco de reflexão, contudo, não é todo desnecessária.

Uma das principais causas do inchaço da população carcerária ocorreu com a transformação do tráfico de drogas em crime hediondo. Parelalemente ao endurecimento da repressão ao tráfico, assistimos a discriminalização dos usuários. Por quê? Porque pertencem a classes diferentes, parece ser a resposta mais lógica quando se trata de Brasil. De outra parte, assassinos confessos, praticantes de crimes hediondos de classe média alta ficam em casa enquanto ladras de pote de margarina amargam cana dura. Certamente, a sensação de impunidade e de injustiça aumenta muito quando notamos as classes para quem são concedidos os direitos de "ampla defesa" e de "declaração de guerra". Quero dizer, com isso, que a reflexão sobre a violência no Brasil é inseparável de considerações sobre as classes sociais.

Avanço no raciocínio. Não apenas isto. Os principais focos da criminalidade não são sequer arranhados com a atual política de segurança pública, que considera, indiscriminadamente, todos os infratores de classe baixa como inimigos. Tal termo, utilizado amplamente nos dias de hoje vai contra todos os princípios da nossa "Constituição cidadã". Quanto mais alto e rarefeito for o ar, mais a Constituição se aplica. Basta lembrar que crime para o andar de cima, como diz Hélio Gaspari, é ilícito. Criminosos, só os do andar de baixo.

A principal causa de tais índices de violência, no entanto, parece ser outro do que aquele proferido iradamente nos discursos oficiais: a favela. Sem condições mínimas de segurança, habitação, higiene e educação, a violência transborda com naturalidade de barracos mal equilibrados e sem canalização de esgoto. O interessante é que a violência somente se torna um problema social quando desce para o asfalto. Confinada aos morros e favelas a violência é vista como "guerra de traficantes". Em nenhum dos programas de governo dos atuais administradores é contemplado um programa ousado de desfavelização, incluindo regularização fundiária, a base para todas as ações subseqüentes. Enquanto o verdadeiro problema fundiário brasileiro (ao contrário do que prega, por exemplo, o MST) encontra-se nas regiões metropolitanas do Brasil e não no campo, não for enfrentado com determinação, as favelas continuarão sendo o grande viveiro da violência cega de nossas grandes cidades.

11 de jan. de 2007

As histórias - Livro I

No livro I das Histórias Heródoto relata as aventuras de Croesus, rei da Lydia e de Cyrus, rei dos Persas. Certo dia, Croesus recebeu a visita de Solón, legislador de Atenas e lhe perguntou quem era o homem mais feliz do mundo. Solón respondeu que era um ateniense chamado Tellus, próspero e saudável, que sofreu uma morte honrosa no campo de batalha e teve, por isso, um funeral público. Croesus não ficou satisfeito com a resposta, porque nutria o desejo de que Solón, ao ver suas riquezas e tesouros, terminasse por julgá-lo o homem mais feliz do mundo. Não se dando por satisfeito, Croesus repete a pergunta, querendo saber quem era o segundo homem mais feliz. Solón responde que foram dois jovens de Argos, Cleobis e Biton, que viveram confortavelmente e eram muito admirados por sua força e caráter. A morte deles também foi gloriosa, ao carregarem um carro de boi com homenagens a Hera por 6 milhas, até o seu templo. O funeral de ambos foi suntuoso e toda Argos lá compareceu.
Croesus visivelmente contrariado com as respostas de Solón, lhe indaga sobre a sua própria felicidade. Solón lhe responde que o ser humano é basicamente uma criatura do azar. "Você", prossegue Solón se dirigindo a Croesus, "pode parecer muito rico e governar muitas pessoas, mas a questão que você me fez eu não irei responder, até saber que você morreu de maneira feliz." Mais adiante, Solón reitera o ponto: "Observe isso: até a pessoa morrer, mantenha a palavra 'feliz' em reserva. Até lá, ela não é feliz, apenas teve sorte". E, novamente: "Olhe o fim, não importa o que você esteja considerando. Freqüentemente Deus dá ao homem um vislumbre de felicidade, então posteriormente o arruína".
Croesus não teve prazer com a conversa entabulada por Solón, deixando-o com indeferença. Crente que era o mais feliz dos homens, Croesus se lança à conquista dos países vizinhos. Croesus, entretanto, é derrotado e preso por Cyrus, que decide queimá-lo vivo numa pira cerimonial juntamente com quatorze rapazes lydios. Enquanto as chamas se aproximam, Croesus murmurra amargamente o nome de Solón. Cyrus, curioso com tal atitude, o solta, ouve a história e o transforma, inicialmente em escravo e, posteriormente, em conselheiro. O irônico é que, no final do livro I Cyrus morre por obra de um conselho desastrado de Croesus.

O Windows Live Messenger chegou! Insta-le já!