Devemos deixar a análise das transformações de nosso tempo como tarefa privilegiada dos jornalistas? Os filósofos devem apenas, segundo uma famosa imagem dada por Hegel em sua Filosofia do Direito, esperar o entardecer dos acontecimentos para analisá-los, comprrendê-los e julgá-los? Nos tempos atuais, de aceleradas transformações materiais e intelectuais, os filósofos podem se eximir dessa tarefa sem perderem o essencial de seu ofício?
Certamente a análise feita por jornalistas nos meios de comunicação de massa são insuficientes para a compreensão da complexa teia de interações e transformações de nossa realidade presente. De outra parte, os filósofos possuem um instrumental teórico e analítico muito mais poderoso e rigoroso, mas pouco aplicado à compreensão da vida presente. Ao delegar a tarefa de análise da realidade presente e atual aos jornalistas, estariam os filósofos à altura de sua tarefa? Aristóteles, Descartes, Leibniz, entre outros, tinham em comum não apenas uma concepção filosófica do real, como também uma pretensão de um conhecimento totalizante, que abarcasse a totalidade do real em suas diversas espeficidades. Para tanto, não se constrangeram em empreender investigações e análises empíricas, quer do mundo natural, quer do mundo cultural. Catar conchas, colecionar constituições, descrever a circulação sanguínea, servir no exército e no serviço diplomático foram tarefas executadas com afinco por filósofos hoje considerados canônicos pela acadêmia.
Considerando que o conhecimento humano se especializou, dividindo-se num sem-número de disciplinas e áreas distintas, nos últimos 200 anos, ainda assim há espaço para análise das concepções contemporâneas de homem e natureza que não fiquem restritas a uma área específica do saber. Ainda é possível fazer filosofia sem olhar apenas para a sua história.
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Uma coisa bacana e relacionada (acho eu) que li no livro Human Knowledge, do Russell: os filósofos citados acima costumavam escrever para o público educado em geral. Russell segue e preserva essa tradição, pois vê como uma perda a escrita filosófica voltada a leitores especialistas.
ResponderExcluirOu seja, talvez haja uma terceira alternativa. Ao invés de (1) deixar para jornalistas, ou (2) seguir pretensões totalizantes, (3) escrever para o público educado em geral.
ResponderExcluirMe parece uma boa alternativa.
ótimo ponto, fabian. em particular, porque tua formulação parece evitar uma postura de cobrança confortável (os comentários do César vão na mesma direção): "esteja à altura da filosofia!" ... não se espera (não se deve esperar) que um público venha se depositar ao pé das questões que ocupam os filósofos, por distantes que eles as situem. ao contrário, a reivindicação é (deveria ser): uma filosofia que, se não se avilta para arrecadar um público (afinal, não se trata disso), não se acovarda diante do presente.
ResponderExcluirleia-se ali no final: "tampouco se acovarda diante do presente."
ResponderExcluirà postura cautelosa dos filósofos, podemos chamar (o título é imaginativo, embora não seja lá muito criativo)"assepsia acadêmica". seus movimentos, segundo entendo, são restritos de dois modos:
1) medo das modas --filosofias da moda, problemas filosóficos da moda, gírias filosóficas da moda; e
2) medo da acusação de militância (esse verdadeiro crime intelectual, ó céus!), de um certo estrabismo que visa a filosofia e dá de cara na ideologia. paúra de política.
Queria registrar que a inspiração para este post foi dado pelo Brum Torres, fazendo alusão à Teoria da Ação Comunicativa do Habermas.
ResponderExcluirAcho que tens razão, César. A questão é buscar uma forma de formulação dos problemas da filosofia para um público erudito, mas não especializado. Afinal de contas, a comunicabilidade e a inteligibilidade são condições sine qua non do discurso, inclusive do filosófico,
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