12 de jun. de 2008

Argumentos ad baculum (apelo à força)

Argumentos ad baculum tentam estabelecer uma conclusão através de ameaça ou intimidação.

Exemplo:


Se X fizer protestos em frente ao Palácio contra a corrupção, B baterá em X.

Logo, X não deve protestar em frente ao Palácio contra a corrupção


Solução:

A premissa é irrelevante para justificar a conclusão. Coação, ameaças e intimidação podem ser persuasivas em alguns casos, mas não têm lugar numa apreciação racional. Note que não faz diferença como X responderá a essa ameaça; o fato dele recusar não altera esse tipo de ‘raciocínio’, que é inaceitável logicamente.

Concursite 2

Em linhas gerais, concordo com o argumento de Raul Haidar abaixo. Mas acrescento que a concursite também pode ser um forte fator de corrupção, na medida em que contribui para a percepção generalizada dentro das diversas esferas de governo que o funcionamento da máquina pública é injusto.

Um dos maiores problemas que existe, a meu ver, nos atuais escândalos de corrupção é que os tomadores de decisão podem ser arrivistas, isto é, pessoas completamente despreparadas para o exercício das funções que lhe são atribuídas. Reza a lenda que certo secretário de governo, cujo nome a história já apagou, nomeou um porteiro de puteiro para direção de departamento de importante secretaria de Estado. Situações como essa, que correm na boca pequena pelos corredores da administração pública e acabam virando piada, ilustram bem o problema dos chefes idiotas (que vivem lado a lado com os chefes corruptos - a outra face do problema). Concordo que existem inúmeros outros setores onde os critérios são mais sérios, mas o ponto eu gostaria de fazer é outro. O funcionário de carreira, obrigado a conviver com uma situação dessas, sente o mais humilhante sentimento de injustiça face ela, e no correr do tempo cria a convicção de que "o esforço não vale para nada".

Não vejo na mídia a pergunta pelos critérios de seleção dos gestores públicos. A não ser naquelas circunstâncias óbvias. Os critérios de seleção devem ser mais transparentes e não devem depender apenas da vontade dos governantes, uma vez que eles são apenas representantes e não soberanos. Por outro lado, não creio que seja possível banir a indicação política dos cargos. Afinal a disputa política é legítima e o governante deve ter o direito de poder implementar a sua proposta de governo. Dessa maneira, não é possível instaurar um governo totalmente meritocrático, a la República de Platão, mas creio que é possível instaurar critérios mais rígidos de nomeação dos altos escalões. Por exemplo, exigir que sejam funcionários da própria instituição ou exigir formação corresponde aos cargos que ocupam (diploma na área) ou democratizar as tomadas de decisão, por meio de conselhos de administração representativos e com autoridade, no qual o representante político detém apenas parte do poder de decisão.

É verdade que existem planos de cargos e salários para diversas categorias de servidores, inclusive com premiações periódicas por mérito, que geralmente premiam a todos de igual maneira. O desafio parece ser, portanto, de criar condições para que o mérito seja, de fato, concedido àqueles que trabalham seriamente dentro das administrações públicas e para que as propostas e os interesses políticos encontrem respaldo naquilo que for republicano. Os partidos políticos, certamente, possuem o direito e a prerrogativa de utilizar o Estado para implementar suas propostas de governo e a sociedade civil tem o direito de exigir que os partidos políticos não se apropriem indevidamente dos recursos públicos.

Concursite

Marciotex mandou texto que diagnostica na concursite um dos piores males que assolam o país: a falta de sonhos da juventude, que enxerga nos concursos públicos a única resposta para a premente questão: o que devo fazer da minha vida? O sonho é a aposentadoria...

(...) "O discurso desses desafortunados pacientes é sempre o mesmo: quer ser funcionário público por causa da segurança, de bons salários, da aposentaria, das férias, ou mesmo da ridícula idéia de serem "autoridade" ou mesmo tratados de "excelência". Isso tudo é muito triste.

Segurança é a mais ilusória de todas as ilusões humanas. No mundo atual segurança não existe. Que o digam os moradores dessa fortalezas medonhas chamadas "condomínios fechados" quando sofrem arrastões praticados pelos moradores da favela vizinha. Ou aquele sujeito que andava armado e foi baleado com a própria arma. Segurança de receber salário todo mês? Pode ser. Mas isso será que vale mais que os sonhos? Paga as esperanças? Compensa o abandono dos ideais?

A aposentadoria mais cedo ou mais tarde vai mudar para pior. Nenhum país pode suportar aposentadorias precoces, de pessoas que no dia seguinte já estão trabalhando e muitas vezes no próprio serviço público. Em qualquer país que pretenda desenvolver-se, em breve só poderá haver aposentadoria por idade (no mínimo 75 anos) ou por absoluta invalidez.

Férias, tudo bem. Mas no limite razoável de 30 dias por ano. Muito embora existam pessoas que não deveriam ter férias, pois não trabalham, apenas enganam. Chegam sempre tarde, saem mais cedo. Ainda bem que são raríssimos esses casos.

O pior mesmo no serviço público é o concursado ter um chefe idiota, o que, aliás, é muito comum.

Quando o idiota é eleito pelo povo, tudo bem. Afinal, o povo quase sempre merece quem elege.

Mas há funcionários concursados de bom nível, sérios, dedicados, cujos chefes são meros apadrinhados políticos, sem competência ou sem apetência para o trabalho.

Conheço uma brilhante advogada que prestou concurso e tem como chefe uma pessoa que não serve nem para carregar a pasta de sua subordinada. O único talento do chefe e razão de sua nomeação é estar filiado ao partido que está no poder e ser um puxa-saco de carteirinha." (...)

Extraído de A morte dos sonhos. Concursite, doença que ataca os jovens, faz mal ao Brasil, por Raul Haidar

11 de jun. de 2008

Aprender praticando

Abaixo, pequeno pedaço da entrevista concedida por Barry Stroud sobre a tese, com a qual tendo a concordar cada vez mais, de que a filosofia é uma arte, devendo ser exercitada para ser aprimorada, aplicada às fronteiras daquilo que é humano. O link devo ao meu sempre bem informado amigo Renato.

"I think of philosophy as a difficult intellectual endeavour. You have to learn how to do it, and it takes a lot of practice. Only those who know how to do it are really engaged in philosophy. It is possible to do serious philosophy outside an academic institution (many of the great philosophers of the past did it)."

10 de jun. de 2008

Argumentos do tipo interesse revestido

Incentivado por amigos da lógica e do debate racional, segue abaixo mais uma falácia proferida por ex-altíssimo escalão do atual gobierno.


Argumentos do tipo interesse revestido:

Tentam refutar uma afirmação argüindo que seu proponente deseja obter alguma coisa (ou impedir a perda de algo). A dedução é que o proponente da afirmação deveria sustentar uma opinião diferente e, portanto, deveríamos desprezar o seu argumento.



Premissa 1: X denuncia que há irregularidades administrativas referentes ao financiamento de campanhas eleitorais em grande e importante banco estatal.



Premissa 2: Y afirma que X é golpista, uma vez que a averiguação das denúncias favorecerá X diretamente.



Conclusão: Logo, não há irregularidades administrativas referentes ao financiamento de campanhas eleitorais em grande e importante banco estatal.

9 de jun. de 2008

Argumentos do tipo ad hominem ofensivo

Argumentos do tipo Ad hominem tentam refutar uma afirmação ou proposta atacando seu proponente e não fornecem um exame ponderado da afirmação em questão. ‘Ad hominem’ significa “contra a pessoa”.
Argumentos do tipo
ad hominem ofensivo são uma espécie de ad hominem onde se ataca uma pessoa, geralmente de forma depreciativa, por uma peculiaridade sua. Seja idade, caráter, família, sexo, moral, posição social ou econômica, personalidade, aparência, roupa, comportamento profissional ou político, ou filiação religiosa. A dedução é que não há motivo para aceitar seriamente as opiniões da pessoa. Por exemplo: fulano é mau caráter. Logo, não devemos aceitar o que ele está dizendo.
Infelizmente o noticiário político estadual dos últimos dias está repleto de argumentos falaciosos, que não são amigos da lógica nem da argumentação racional. Na última briga intestina entre membros do primeiro escalão do governo Ieda, de repercussões políticas ainda incertas, mas graves, foi transmitido ao vivo, mais uma falácia ad hominem ofensivo, que fornece a base para a estratégia de defesa de uma ala do governo gaúcho contra outra.

X reclama que está sofrendo assédio moral devido às irregularidades que estão sendo cometidas por parte da gestão estadual, da qual faz parte.

Adicionalmente, X afirma que, como autoridade pública, não pode se omitir frente provas de irregularidades em órgãos públicos, pois isso seria crime de responsabilidade

Como prova da afirmação de X, há uma cópia de uma conversa gravada entre X e Y, onde Y confessa esquemas de irregularidades em órgãos públicos com objetivo de financiar campanhas eleitorais (inclusive do atual governo)

Y admite a existência de irregularidades em órgãos públicos, realizadas para financiar o atual governo

Y não sabia que estava sendo gravado por X, logo X é mau caráter.

Conclusão: não devemos acreditar que X sofreu assédio moral nem que há irregularidades desse governo não investigadas.


8 de jun. de 2008

COMEMORAÇÃO

Em comemoração aos últimos acontecimentos relativos à corrupção no Estado, a governadora Ieda Crusius e o ex-chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, tomaram champanha!!! Quem duvida, leia a íntegra da entrevista na página da Zero Hora:

Reproduzo a pérola abaixo:

"Foi um encontro para fazer um balanço desse período todo, e eu vim comunicar que vou me apresentar à CPI para fazer um depoimento na segunda-feira. A governadora concordou e ficou satisfeita, achou muito boa a minha iniciativa. Isso aí. Nós tomamos champanha para comemorar."

6 de jun. de 2008

É preciso fazer alguma coisa

Tirei de um comentário do RS Urgente:

Gente, DIA 13 SEXTA-FEIRA, vai haver ato público defronte o PPiratini (repassem). COMPAREÇAM. Levem quantas pessoas puderem, quanto mais melhor. Levem também apitos, cornetas, tambores, panelas tudo que faça barulho. Não podemos nos calar.. Chega de nos roubarem e ainda menosprezar a nossa inteligência, com desculpas esfarrapadas!
Maria Rodrigues