Em linhas gerais, concordo com o argumento de Raul Haidar abaixo. Mas acrescento que a
concursite também pode ser um forte fator de corrupção, na medida em que contribui para a percepção generalizada dentro das diversas esferas de governo que o funcionamento da máquina pública é injusto.
Um dos maiores problemas que existe, a meu ver, nos atuais escândalos de corrupção é que os tomadores de decisão podem ser arrivistas, isto é, pessoas completamente despreparadas para o exercício das funções que lhe são atribuídas. Reza a lenda que certo secretário de governo, cujo nome a história já apagou, nomeou um porteiro de puteiro para direção de departamento de importante secretaria de Estado. Situações como essa, que correm na boca pequena pelos corredores da administração pública e acabam virando piada, ilustram bem o problema dos
chefes idiotas (que vivem lado a lado com os
chefes corruptos - a outra face do problema). Concordo que existem inúmeros outros setores onde os critérios são mais sérios, mas o ponto eu gostaria de fazer é outro. O funcionário de carreira, obrigado a conviver com uma situação dessas, sente o mais humilhante sentimento de injustiça face ela, e no correr do tempo cria a convicção de que "o esforço não vale para nada".
Não vejo na mídia a pergunta pelos critérios de seleção dos gestores públicos. A não ser naquelas circunstâncias óbvias. Os critérios de seleção devem ser mais transparentes e não devem depender apenas da vontade dos governantes, uma vez que eles são apenas representantes e não soberanos. Por outro lado, não creio que seja possível banir a indicação política dos cargos. Afinal a disputa política é legítima e o governante deve ter o direito de poder implementar a sua proposta de governo. Dessa maneira, não é possível instaurar um governo totalmente meritocrático,
a la República de Platão, mas creio que é possível instaurar critérios mais rígidos de nomeação dos altos escalões. Por exemplo, exigir que sejam funcionários da própria instituição ou exigir formação corresponde aos cargos que ocupam (diploma na área) ou democratizar as tomadas de decisão, por meio de conselhos de administração representativos e com autoridade, no qual o representante político detém apenas parte do poder de decisão.
É verdade que existem planos de cargos e salários para diversas categorias de servidores, inclusive com premiações periódicas por mérito, que geralmente premiam a todos de igual maneira. O desafio parece ser, portanto, de criar condições para que o mérito seja, de fato, concedido àqueles que trabalham seriamente dentro das administrações públicas e para que as propostas e os interesses políticos encontrem respaldo naquilo que for republicano. Os partidos políticos, certamente, possuem o direito e a prerrogativa de utilizar o Estado para implementar suas propostas de governo e a sociedade civil tem o direito de exigir que os partidos políticos não se apropriem indevidamente dos recursos públicos.